
A recente divulgação dos dados sobre o aumento de mortes por atropelamento na cidade de São Paulo acende um alerta preocupante. Apenas nos dois primeiros meses de 2025, 53 pessoas perderam a vida atropeladas nas vias da capital — um crescimento de 30% em relação ao mesmo período do ano anterior. Trata-se do maior número registrado nos últimos seis anos.
O dado mais alarmante, no entanto, é o perfil das vítimas: em sua maioria, pessoas com mais de 60 anos, evidenciando a vulnerabilidade dos idosos em um trânsito cada vez mais hostil. A tragédia se repete e, como apontou o pesquisador Luiz Vicente Figueira de Mello, da Unicamp, está ligada diretamente ao aumento das distrações no cotidiano urbano, tanto por parte dos condutores quanto dos pedestres.
Como advogado atuante na área do Direito de Trânsito, entendo que este problema exige não apenas lamentações, mas ações concretas e coordenadas entre sociedade, governo e operadores do direito. A segurança viária deve ser tratada como política pública essencial, com enfoque em prevenção, fiscalização, responsabilização e educação.
É urgente reduzir velocidades em áreas críticas, implantando zonas de 30 km/h em regiões com grande circulação de pedestres, especialmente idosos, como próximo a hospitais, centros de saúde e terminais de transporte público.
Também é essencial aperfeiçoar a infraestrutura urbana, com faixas elevadas para pedestres, iluminação adequada, sinalização visível e tempos de semáforo adaptados à mobilidade reduzida.
A fiscalização deve ser reforçada, com aplicação rigorosa da lei contra condutas imprudentes como o uso de celular ao volante e o desrespeito à faixa de pedestres. A legislação já prevê sanções severas, mas sua efetividade depende da presença e da ação do poder público.
A educação para o trânsito precisa ser permanente, começando nas escolas e alcançando também os adultos e os idosos, com campanhas de conscientização e programas comunitários sobre travessias seguras, leitura de sinais e uso adequado das vias.
Por fim, é imprescindível promover a responsabilização civil e penal dos condutores negligentes, com ações judiciais que garantam reparação às vítimas e sirvam de exemplo para coibir a imprudência no trânsito.
Reduzir a sinistralidade não é uma utopia. É uma decisão política e moral. E a cada vida poupada, justificamos o esforço coletivo. O trânsito é o reflexo do modo como nos relacionamos em sociedade: quando ele mata, algo mais profundo está errado.
A hora de agir é agora.